domingo, abril 12, 2009

Um Tapete Muito Caro para a Morte

"Um tapete muito caro para a Morte"

Fim

Frederico ouvia um zumbido insuportável que crescia a cada respiração, e que culminou numa explosão. Sentiu então uma dor lascinante, aguda, rápida. Depois disso, o silêncio... o nada. A ausência de qualquer sensação, de qualquer pensamento, da noção de tempo e de espaço, a ausência dele mesmo. Nenhuma lembrança, nem frio, nem calor, nem medo. Um zumbido intenso, uma explosão e o nada. Após isso, aos poucos ele conseguia sentir seu coração batendo freneticamente. A cada batida, uma luz misteriosa e ofuscante queimava cada vez mais seus olhos. Frederico conseguiu ouvir o eco de seu próprio grito.

Acordou repentinamente em seu quarto. A confusão mental era tamanha que nem mesmo sabia quem era. Passou as mãos finas pela cabeça, da nuca ao topo, onde os fios rareavam, tocando então a testa, os olhos, até a boca e o nariz. O gosto salgado e característico em seus lábios denunciava ser sangue aquele líquido escuro e viscoso. Tomado pelo desespero e pelo terror, Frederico nem ao menos conseguia se levantar para ir ao banheiro. Vomitou ali, naquele canto em que estava jogado e inconsciente há minutos, horas ou talvez até dias. Agora gritava a plenos pulmões, precisava de alguma ajuda, de algum entendimento. O hotel estava cercado por multidões. Os fotógrafos, repórteres, jornalistas de todo o país permaneciam de pé na calçada, alguns com cadeiras dobráveis esperavam por qualquer sinal de vida vindo do quarto de Frederico. Os olhares, todos, se dirigiam à sua suíte. Naquele exato instante alguém batia fortemente em sua porta, e Frederico agradeceu aos céus. Arrastando-se, conseguiu chegar até lá e com muito esforço conseguiu abrí-la. Do lado de fora, impacientes e possuídos por um desejo não identificável, o gerente do hotel acompanhado por dois policiais armados que, sem qualquer indício de dúvida, imobilizaram-no em poucos segundos. Frederico ouviu um dos homens dizer-lhe seus direitos e, sem entender nada, foi levado até o elevador, depois ao térreo e por último para fora do hotel. Foi empurrado para dentro de uma viatura própria para levar criminosos à delegacia. Nesse intermédio, algumas frases desconexas, sem sentido algum, eram ditas primeiro pelos policiais, depois pela multidão.

Frederico se sentia perdido. Formular qualquer pergunta naquela situação lhe parecia impossível. Todavia, algumas imagens se formavam aleatoriamente, expondo-lhe talvez toda a verdade por trás de toda a sua confusão. Não acreditava em nenhuma delas. Mas ainda lhe restava o raciocínio, por mais que as emoções lutassem bravamente para sobressairem-se à razão. Frederico, perdido em meio às tais imagens, desviava-se de seu lado racional cada vez mais... começou então a falar. Os oficiais, a partir dessa novidade, calaram-se. Anotavam tudo o que saía da boca daquele que, horas antes, no lobby do hotel, perfurara por vinte vezes o estômago do barman. Seu advogado, perplexo, balançava a cabeça.
Depois de alguns dias, no tribunal, Frederico fora condenado. Seu atenuante: distúrbio mental grave.