quarta-feira, dezembro 15, 2010

Down

 Um risco de tristeza...

 A pior parte é que eu havia me apegado a todos eles...

 ...

segunda-feira, dezembro 13, 2010


Desejo dos Perpétuos

O personagem mais emblemático da mitologia moderna, na minha singela opinião, é Sandman dos Perpétuos. Também conhecido como Morpheus. Ou Oneiros.  Porém, mesmo gostando tanto dele, me peguei refletindo sobre Desejo. 
Somos seres que desejam a todo momento, e talvez seja nosso maior problema, pois é por desejar tanto que nos sentimos insatisfeitos e incompletos. Agora mesmo desejo. Hoje ainda desejarei, e amanhã, e nos dias posteriores. Faz parte de nossa natureza, assim como também sonhamos, nos desesperamos, deliramos, destruímos, morremos.
Mas Desejo possui duas facetas, e isto é que é mais intrigante. Ela /ele nos impulsiona para que atinjamos certos objetivos, mas nunca nos deixa completamente satisfeitos. Insatisfeitos, incompletos. Mesmo no romance gráfico, aparece sempre com aquele ar andrógino, com seu olhar enigmático, sua postura de soberba.
Desejo nunca desiste, invade até mesmo o território dos outros Perpétuos. Cria armadilhas, nos confunde e, na maioria das vezes, nos aprisiona em seus domínios. O Limiar de Desejo.

O ponteiro dos minutos gritando aqui. Preciso ir. Numa outra hora volto à ela/ele. (Desculpem, hoje eu estou correndo contra o tempo).

terça-feira, dezembro 07, 2010

Pensamentos Flutuantes

Pensamentos Flutuantes


27/11/2010

Abaixo, muito abaixo de mim
vejo desenhos de curvas, pontos indefinidos
que podem ser enormes edifícios ou quadras
de condomínios
Mas daqui reduzem-se a pontos,
simples e, aparentemente, insignificantes.
Vejo formas diversas pintadas
com todos os tons de verde e marrom
Vejo as sombras das nuvens,
que daqui de cima parecem mais fofas e brancas.
Há momentos/lugares em que elas formam um oceano branco,
que cega a vista de quem se encanta e se consome
em sua infinitude.
O horizonte, antes uma linha bem traçada,
agora apresenta um quê de áurea e as cores
variam entre o azul celeste, o branco e o róseo.

(Escrito antes daquela linda aterrissagem, daqueles lindos lábios e daquela noite inesquecível)

terça-feira, novembro 16, 2010

Pequenos grãos de areia

Foi chegada a hora de lançar as chamas presas por dentro dela, antes que explodisse. Aquela era a sua vez de poder soprar para longe toda a sujeira que via e sentia desde que o acontecido se sucedeu. Lembrou-se de cada detalhe dos momentos extenuantes do passado e das cenas promissoras do presente. E, assim como as estrelas, que somente piscavam naquela noite, aguardaria seu interior silenciar.  Não adiantaria muito agir com tanto fogo e lava vulcânica querendo sair pelas ventas. Era melhor esperar, aguardar, saborear as notícias que seriam trazidas pelo tempo. E assim, depois de alguns goles de seu anestesiante preferido, sentou-se perto da fogueira. 
Avistou, ao longe, uma enorme árvore. Pensou sobre tudo o que aquela sábia sequóia já presenciara. Quanto tempo se passou desde que fora cultivada, quantas guerras já não teriam começado e terminado. Quantas vidas nasceram, quantas mortes e amores, e desenlaces, e vitórias e derrotas.
Mais um ano se passara e mais ela tinha visto, sentido, experimentado. Agora sabia que não deveria parar, que o fluxo era contínuo, que agora o que mais importava era seguir a estrada. Acreditava e via que nada havia de errado com ela, mas talvez com o mundo. Onde estariam as pessoas que o salvariam? Uma hora tudo acabaria, a única certeza da vida, porém, seria imbecil demais concordar com a inércia e a ignorância. Não importavam mais os tantos que insistiam invadir sua mente com as falsas promessas, daria um adeus a todos eles, que procurassem outras mentes cansadas e torturadas para converter. A sua estava tranquila, pacífica como uma ilha perdida no meio do oceano, virgem.
Um oceano, não encontraria metáfora melhor para expressar a infinitude do tempo e da própria experiência de estar viva. Flutuava em seu barco pressentindo as tempestades que viriam, e quando estas se dissipavam, sentia a brisa e o sol acariciando sua pele molhada, salgada. Logo as ondas estariam tão calmas que poderiam trazer boas novas, mensagens dentro de garrafas, esperanças. Ou então, o contrário, súplicas jogadas ao mar por pessoas que não entendiam o porquê, que não aguentavam as tormentas, que por vezes desistiam da descoberta.
E ela refletiu, o tempo continuará ecoando, mesmo que haja tantas e tantas tempestades, não há nada a fazer a não ser persistir ou desistir. Entregar-se às ondas violentas, esmagadoras, ou então agarrar-se ao barco ou ao que sobrar dele. E, ao longe, quando as areias ficarem visíveis, voltaremos a ser crianças, ingênuas, riremos e nos lançaremos aos simples prazeres, sem condenações ou medos.
Abriu seus olhos e o fogo já havia se apagado. Agora somente as cinzas daquilo que havia sido.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Perto da retrospectiva

Lembrete

Mais um ciclo se fecha, entre janeiro e dezembro. Na lista de comemorações, muitas amizades conquistadas, beijos roubados e permitidos, noites indescritíveis - pelo alto teor pornográfico? - congratulações pelo trabalho realizado, shows assistidos, enfim, puxa... quanta coisa boa! Também posso citar algumas experiências nada agradáveis, situações broxantes - literal e metaforicamente - falta de reconhecimento do trabalho realizado e decepções/frustrações - leia-se: traições de amigos antes considerados intocáveis.
Para um ano que prometia muitas emoções, desde o primeiro dia, realmente este foi um dos que ficarão na memória, sem dúvida alguma! Queria poder agradecer a algumas pessoas, e espero poder valer a todos, todos. E nesse espaço acredito que poderei expressar minha gratidão com mais eloquência. Agradeço a Edilaine, uma pessoa iluminada que me deu forças para segurar uma barra muito pesada no trabalho. Parabéns por ser assim, tão generosa! Agradeço também Odair, um cara que, talvez, não consiga descrever. Quisera eu poder, como ele, degustar da vida, conseguir ter a mesma destreza no trabalho e a mesma alegria de espírito! Agradeço minha mais nova companheira de baladas Vivien, uma das minhas conquistas deste ano, por ser tão leve e inteligente, é  uma bênção contar com suas opiniões e reflexões. Suas experiências e sua áurea tranquilizam e sua autenticidade faz esquecer essa sociedade cheia de (falsas) aparências. Agradeço a classe do 9o. ano. Todos eles, adolescentes que me fizeram crer tanto em mim mesma quanto nos outros. Pequenos mestres. Agradeço também todos os homens com quem me relacionei este ano, de alguma forma vocês foram professores para mim. 
Agradeço a Deus. Estou em busca, perseguindo-O, e sei que este ano foi um presente Seu. Espero poder enxergá-lO cada vez com maior nitidez. Obrigada.

Este é só um lembrete. Saber agradecer é uma virtude!

sábado, setembro 04, 2010

A Vida Acontece

     A vida acontece a cada parada inesperada numa rua desconhecida. Acontece a cada palavra dirigida a um estranho, a cada olhar em direção ao sol (especialmente quando está nascendo), a cada música que em questão de minutos leva você a outros lugares e épocas. A vida acontece também quando, presenciando uma cena delicada - como um casal de pombos se acariciando - você não consegue segurar uma lágrima que escorre pelo canto do rosto (pois pode estar deitado no chão, de frente para uma árvore cuja sombra acolhe e refresca).

     A vida acontece mesmo que você se recuse a aceitar o fato. Mesmo quando, ao adormecer, pensa que será um milagre se sobreviver ao dia seguinte. E será mesmo! A vida acontece quando, ao acordar, mesmo sem pronunciar palavra, lá no fundo agradece por essa nova chance. Acontece a cada vez que você põe seus pés no chão, a cada sorriso que oferece e que lhe é oferecido (principalmente quando é o sorriso de um bebê de poucos meses).

     A vida acontece sem que você perceba também, no horizonte inalcançável, no piscar dos olhos, no passo rápido de um gato, no balançar dos galhos, nos primeiros raios de sol e nas primeiras gotas de chuva.

     Se você tem alguém para chamar de "meu amor", a vida acontece a cada beijo, mas também a cada discussão. A cada vez que se abraçam e seus corações batem lado a lado, quase juntos. A cada vez que seus corpos se unem, a cada respiração ofegante.

     Caso não tenha esse alguém, a vida acontece a cada risada na roda de amigos e a cada suspiro dado por causa da solidão. Acontece toda vez que conhece uma pessoa interessante, a cada vez que você aproveita, do seu jeito, a liberdade incondicional que possui. A cada viagem que faz para conhecer a pessoa mais interessante de todas (você, lógico!).

     É inevitável. Além de tudo isso (e muito, muito mais), a vida acontece a cada emoção sentida, a cada passo dado, a cada segundo vivido. E não há como negar: a vida é mesmo um instante, um momento no universo; porém, o momento mais gigantescamente valioso!

quarta-feira, agosto 11, 2010

1984 e o Domingo

"Acima de tudo, era o que ele desejava ouvir. Não somente o amor de uma pessoa, mas o instinto animal, o desejo simples, indiscriminado; era a força que faria a derrocada do Partido. Apertou-a contra o chão, esmagando campânulas. Desta vez não houve empecilhos. Dentro de algum instantes, o ofegar do peito de ambos voltou ao normal, e com um agradável torpor, permaneceram imóveis. O sol parecia ter esquentado mais. Ambos tinham sono. Ele puxou o macacão abandonado e cobriu-a um pouco. Quase imediatamente caíram no sono e dormiram cerca de meia hora.

Winston acordou primeiro. Sentou-se e ficou contemplando a face sardenta, ainda adormecida, apoiada na palma da mão. Com exceção da boca, Júlia não podia ser considerada bonita. Olhando-se de perto, descobria-se uma ruga ou duas perto dos olhos. O cabelo escuro e curto era extraordinariamente espesso e macio. Winston raciocinou que ainda não sabia todo o nome dela, e onde morava.

Aquele corpo jovem e forte, agora completamente desprotegido, provocou nele uma sensação de pena, e proteção.Mas não voltou de todo a ternura física, orgânica, que sentira sob a aveleira, enquanto cantava o tordo. Puxou o macacão de lado e observou a pele branca e macia. Antigamente, pensou ele, um homem olhava um corpo de mulher, via que era desejável e pronto. Mas agora não era possível ter amor puro, ou pura lascívia. Não havia mais emoção pura; estava tudo misturado com medo e ódio. A união fora uma batalha, o clímax uma vitória. Era um golpe desferido no Partido. Era um ato político." George Orwell, que bem poderia ter escrito esse trecho depois de um Domingo qualquer.

domingo, julho 04, 2010

A Estrada

 Num final de tarde, uma festa. A expectativa era de que fosse encontrar alguém em meio à multidão que o fizesse sentir-se vivo e importante, então acelerava com vontade, ouvindo o motor rosnando como um animal. Ligou o rádio para distrair-se e levantar seu astral um pouco mais, e um rock n' roll conhecido tomou conta do seu corpo e de sua mente. Agora seguia confiante e naquela noite, quem sabe, teria alguma diversão.

Ao chegar no local, não conseguia estacionar o possante. Muitos já haviam chegado horas antes, e nenhuma vaga sequer havia sobrado por perto. Os que apareciam naquele horário também acompanhavam uma romaria em busca de um único espaço em meio à aglomeração de automóveis. Não haveria outro jeito: teria que andar um pouco mais para chegar à festa, pois o único lugar que havia encontrado estava a mais ou menos quinhentos metros de distância. Mas ele estava bem vestido, usava seu melhor perfume e, especialmente naquele momento, se sentia poderoso.

A festa já estava lotada. Uma ânsia por ver gente conhecida se apoderou dele, cujos olhos investigavam milimetricamente cada canto da chácara em busca de um outro olhar, de um sorriso. Entretanto, até ali nada o alegrava. Parecia que aquela noite seria de espera e de procura, duas palavras que, em seu vocabulário, quase não possuíam importância. Na verdade, era sempre ele quem era esperado e procurado, não fazia sentido algum que a situação tivesse se invertido.

Uma hora se passara desde o momento em que pusera os pés na terra batida daquela chácara. Já não estava animado, sentia o coração disparado em seu peito e as mãos gélidas, sinal de que o nervosismo e a ansiedade já o haviam alcançado. Uma hora depois um conhecido parou ao seu lado e travava, casualmente, uma conversa com ele, outros passeavam em meio à festa, exibiam uma tranquilidade digna de anjos assexuados. Ele não. Queria sentir-se vivo, e não era o que ocorria, pelo contrário, parecia que naquele lugar as únicas cores eram o branco, o preto e o cinza. As músicas não passavam de ruídos, as pessoas, simples vultos. 

Resolvera sair à francesa. Agora seguiria rumo à casa de uma amiga com quem teria alguma diversão, pelo menos sempre conseguia algo quando precisava. O motor roncava, agora mais furioso. A música, mais alta. Outros veículos pareciam competir com o dele numa velocidade incompatível ao limite de velocidade. Já estava chegando, enfim. A casa, sempre com suas luzes acesas, agora se encontrava em meio a uma escuridão intimidadora. Não poderia ser, mas sim. Não havia ninguém, ou ela poderia estar dormindo; resolveu tocar a campainha. Uma voz também conhecida atendeu, e perguntado sobre a dona da casa, respondera que ela não estava ali.

Mais uma vez, entrou no carro. Agora seus pés adquiriram um peso extraordinário, e o acelerador era sua vítima. O motor, colérico, rangia como os dentes de seu motorista. A estrada agora era sua companhia, única. Ela o entendia, ela sabia o que se passava ali dentro dele. As faixas passavam tão rapidamente que pareciam contínuas, indicando-lhe o caminho de casa. O rádio estava ligado, mas a única música que ouvia era a de seu motor, juntamente com o bater de seu coração, já cansado de tanta falta de sorte. Pareciam ritmados, o motor, o coração. Ele mesmo se sentia parte do automóvel, como se fossem um único ser, que corria pela estrada em busca de libertação. Uma curva apareceu para uní-los e, ao contorná-la, por um momento o motor e o coração pararam para ouvir o gritar dos pneus. Agora nada mais importava, nem a companhia, nem as roupas, nem o perfume. Só a estrada poderia saber.

sábado, junho 26, 2010

Uma manhã, uma tarde e uma noite

Uma manhã, uma tarde e uma noite

Marília já acordava correndo. O despertador gritava em cima do criado-mudo, sem dó. Ela sonhava que cavalgava em um cavalo preto, altivo, e o vento que bagunçava seus cachos da cor do sol era o mesmo que refrescava sua pele que, inexplicavelmente, ardia em brasas, sem que ela sentisse qualquer dor. Ao contrário, a sensação era de prazer e felicidade, pelo menos até o som estridente do relógio fazê-la acordar sobressaltada. Seu coração disparava assim como os segundos, que movimentavam o ponteirinho menor com sua urgência e rapidez.

O cobertor estava na temperatura certa, mas o dia apenas começava. Lembrou-se de seu superior, o quanto estava agitado nas últimas semanas, cobrando por resultados. A pressão psicológica de Nunes a atingia em cheio, e por mais que se esforçasse, nada era bom o suficiente. A cada dia uma nova cobrança, uma nova necessidade. E os negócios não iam nada mal: a curva do balanço mostrava que as vendas cresciam. Marília desejava descansar numa praia, levar seu companheiro Max para correr e pular as ondas... era seu melhor amigo, e assim que percebeu que ela acordara, não hesitou por momento algum em saltar na cama e, com aquela alegria própria, demonstrar-lhe suas expectativas, pois para ele seria um dia fabuloso!

Depois de abraçar Max com entusiasmo, afinal, qualquer coração gelado se desfaleceria na companhia daquele lindo e feliz labrador, Marília segue em direção ao banheiro e, mesmo a contragosto, se livra de sua roupa de dormir. As primeiras gotas do chuveiro descem como agulhas de gelo, ferindo sua pele que, até aquele momento, estava quente. Em alguns minutos seus pensamentos tomam sua atenção por completo: tudo o que teria que ser feito até a hora do almoço, como sempre, Marília retomava, ponto a ponto, em sua mente. Ao terminar o banho já se sentia sobrecarregada. Mas tinha um cargo, ganhava por ele, independentemente de Nunes, de Renata - a grande puxa-saco da agência - e de qualquer outro colega de trabalho, ela ainda agradecia por tê-lo.

Pão com geléia para ela, ração para Max. Suco para ela, água para Max. Chaves do carro para ela, a solidão para Max.

Ao trocar a marcha e pisar no acelerador, Marília já se sentia em seu lugar, seguiria sua rotina. O celular toca, só tem tempo de verificar quem seria o ser que ligava àquele horário. Nunes. Aquele seria mais um dia cheio, e teria problemas...

sexta-feira, junho 25, 2010

O Bater das Asas da Borboleta - O Caos e os Vômitos

Às vezes tenho a impressão de que sou um alvo fácil das desumanidades. Há sempre algum problema ou alguém que cria um problema para a minha cabeça! Como diriam meus alunos, "fala sério"!

Há décadas atrás (tempo que passa cada vez mais rápido), quase nada me atormentava. Seriam problemas tão pequenos que não mereciam tanta atenção, ou eu havia desenvolvido uma capa de proteção aos pensamentos insistentes que levam ao desânimo? Ou seriam as responsabilidades que crescem feito bolo de mãe ... humm... como era fácil a vida daquela pequena ruivinha sardenta, que ocupava sua mente com quadrinhos do Walt Disney e comia bolo de cenoura com granulado por cima sem se preocupar com o dia seguinte ou com as calorias do bolo... 

Sou muito tranquila, me sinto feliz e abençoada. Mas quanto mais me sinto livre e em paz, mais problemas aparecem, do nada, sem explicação. Não sei se acontece com mais gente, mas é só eu começar a elogiar uma pessoa para ela me decepcionar, é só me sentir segura em relação a algo para que esse algo entre em turbulência. Talvez seja um teste: vamos ver até onde ela aguenta segurar aquele sorriso, até quando ela vai distribuir tantos pensamentos encorajadores... mais uma vez recorro à sabedoria de meus alunos: "tenso!"

Aprendi,  nesses últimos tempos, a ser muito mais paciente. Quero compartilhar isso aqui, hoje. A paciência é uma dádiva, pois a paz que tanto se busca não é encontrada sem muita espera. Nós somos seres que esperam. Esperamos 4 anos para torcer para o Brasil na Copa (ah, obrigada pessoal do 3o ano pelas risadas e pelo churrasco de hoje!), esperamos por 9 meses aquele serzinho(a) que mudará por completo a nossa vida, esperamos pelo vestibular, na fila do banco, na fila do caixa de supermercado, esperamos o tempo que for para encontrar a nossa cara-metade, esperamos até pela morte... 

Há como esperar sem paciência? De maneira alguma. Mas tem muita gente impaciente por aí. E o pior, um problema pessoal (gerado, muitas vezes, pela impaciência) pode acabar criando problemas coletivos. É a teoria do caos funcionando aqui: uma pessoa acorda de mal humor numa bela manhã ensolarada, levanta-se e segue sua rotina matinal como se cada passo ou cada palavra se transformasse num martírio, um castigo. Chega no trabalho e escolhe (consciente ou inconscientemente) algum inocente que deverá pagar pelo pato. Na primeira chance que tiver, o mal humor em pessoa fará tremer a terra e os céus caírem na cabeça desse bendito ser que, sabe-se lá, acordou feliz naquela manhã, pensando numa forma de fazer seu ambiente de trabalho tornar-se cada vez mais agradável.

Reação em cadeia: o ser Pollyana  em questão poderá perder a vontade de tornar o mundo mais cor-de-rosa e voltar-se contra os seus colegas de trabalho, criar situações constrangedoras. Poderá ser uma pedra no sapato de todo mundo. Tudo porque alguém não cultivou a paciência e não procurou solucionar seus problemas interiores antes de vomitar palavras rudes e cruéis em cima dos outros. E quem é que limpa toda essa sujeirada?

Enfim... sou paciente. Espero pela solução dos problemas, mas aprendi isso a duras penas. As borboletas batem as asas na Ásia e os ventos acabam formando furacões na América, não é? Não sei, mas um pouco de gentileza ou de atenção no trato com seres humanos pode mudar o dia de alguém, disso tenho certeza. Eu desejo que todos vocês possam desfrutar da paz interior, e isso pode ser difícil quando lidamos com brutamontes ou com cobras sibilantes que se arrastam e mordem pelas costas. 

Ai, coitadinha da menininha ruiva... se ela soubesse o que iria enfrentar mais à frente...




terça-feira, abril 27, 2010

O Vinho e a Seda


Aconteceu numa festa. Embora ambos se encontrassem em várias delas, somente nesta o desejo se consumou. Ele, perfeito. Ela, única. A admiração era mútua, invejavam-se até, pois cada um, à sua maneira, possuía algum dom especial. Além disso, cada vez que seus olhares se cruzavam, uma certa excitação manifestava-se. Alexia possuía o dom de atrair a atenção alheia sem esforço. Era eloquente, espirituosa, sensual, assim como Tom, que nunca deixava de ser percebido em qualquer recinto. Gostava de contar algumas de suas experiências pessoais, mas também não somente isto. Qualquer manifestação artística a seduzia, tanto pintura quanto cinema, literatura, música. Toda pessoa que se aproximasse era tomada de assalto por alguma de suas divagações, impossível ser mais autêntica. De outro lado, ele. Sempre atento às pautas, sabia como discutir sobre qualquer assunto, mas principalmente sobre música e cinema, objetos de seu desejo. Era alguém especial, culto e sem qualquer vestígio de pedantismo. Entretanto, nele, algo era suspeito. Algum estranho brilho no olhar. Ela já percebera, porém pensava ser algo de sua imaginação.

A festa. Como tantas outras, muita bebida e muita música, tudo aquilo que não poderia faltar num bom encontro entre amigos. A bebida variava entre bons e caros vinhos, champagne e vodca. O grupo quase nunca se alterava. Raro era haver alguém desconhecido pela maioria, porém, obviamente, a companhia de rostos notáveis não era, de forma alguma, proibida. A música, heavy metal, fornecia o ritmo à festa, aos movimentos dos corpos. Alguns riam alto, muitas vezes não pela piada proferida, mas sim, como a confirmar o êxito da reunião; outros, pusilânimes, limitavam-se a apenas sorrir, com o mesmo intuito. Às vezes um grupo se ausentava, por motivos próprios. Voltavam, após algum tempo. Havia também os que discutiam atualidades, política. Ela nunca se manifestava em relação a tais assuntos, e quando a conversa tomava tal direcionamento, sempre optava por não talhá-la. Na presente festa isto aconteceu, e então Alexia procurou uma garrafa de vinho, desejava embebedar-se. A garrafa estava cheia, pôs a bebida em sua taça. Mas tal ato não fora feito às pressas, e sim, voluptuosamente; ao segurar o gargalo, ao despejar o líquido. E tal voluptuosidade lhe era intrínseca. Ele, estonteado, estava parado ao lado de uma pilastra, observando-a. 

Após algumas tantas taças, ela toma a direção ao banheiro. Numa esbarrada acidental, deixa cair um pouco de vinho em seu vestido, que era de seda, num tom cinza. Maldito vinho! Ele, prestativo, vai ajudá-la. Sugere que seja arranjada uma taça de água morna para eliminar a mancha. Vão à cozinha, a chama do fogão é acesa. A bebida começa a deixá-la inspirada, sua pulsação provavelmente estava acelerada, mas tais reações não poderiam ser percebidas por Tom, visto que apenas secretamente ela ansiava por aquele momento. Então dialogaram sobre a festa, sobre o pequeno acidente e a falta de jeito dela. Sem perder a chance ele a elogia, dizendo que o incidente a deixara rubra e isso havia aumentado seu charme. Seus olhos cruzam-se, e ao mesmo tempo analisam-se. E havia aquele brilho.
 
O tempo havia parado. Nada mais aconteceu. A música, os risos, o tilintar dos gelos nos copos de vodca. Tudo. O que restara eram dois pares de olhos fixos. Ela não conseguia livrar-se da imensa vontade de tocá-lo, beijá-lo. Implorava pela aproximação de ambos os lábios, pela ofegante sincronia de um beijo. Ele já havia compreendido a súplica. Com uma das mãos tocou seus lábios com tal sutileza, com tal veneração, que ela quase sucumbiu. Seus sentidos a deixavam perdida, entretanto, havia algo. O olhar, talvez. Um certo brilho. Com a outra mão, ele tocou sua nuca, causando um certo arrepio em sua espinha, e até um certo desconforto. Estava dominando-a. E ela também já havia compreendido. Aquele olhar que a aliciava agora a desesperava. Os traços de um rosto antes admirado e que agora tomava formas aterrorizantes. Ela não conseguia mover-se, e ele deixava cada vez mais o brilho de seus olhos figurar-se em um brilho assustador. A lascívia misturava-se ao medo. Um medo que a excitava, mas terrífico. Nada mais ela poderia fazer. Estava imóvel, domada. Cerrou os olhos e esperou o toque, que não demorou. Os lábios se uniram, e ela sentiu como se estivesse potencialmente sensível, então desvaneceu.. mas segundos antes de precipitar-se, olhou para ele. Entendeu o brilho daqueles olhos. Tudo foi explicado, e nada mais seria possível. Era o fim, e já estava feito. O desespero não mais a alcançava. A serenidade agora era sua companheira.

Um breve comentário a respeito do agora

A volta do Editorial


Passados alguns meses já, senti falta dessa minha antiga e eficiente forma de desabafo. Muito aconteceu até este momento, e se fosse dar conta de todos os acontecimentos, acredito que não seria possível nesse humilde espaço que me gratifica muito possuir. Mas vamos ao que interessa: as mudanças, pequeninas ou grandiosas, são elas que nos movem e que nos espreitam diariamente, esperando o momento oportuno de se manifestarem.

A borboleta que antes era lagarta, a rã que em seu passado recente ainda era girino... faço minhas as palavras de Raulzito: podemos nos considerar metamorfoses ambulantes. Outro dia senti-me estranha, pois nos últimos meses muito do que antes era de meu interesse, hoje se tornou superficial. Pensem: o que é mais importante hoje? O hoje! Entretanto, só notei essa verdade há pouco, afinal, sempre fui uma sonhadora incorrigível... o problema dos sonhadores é divagar a respeito do amanhã e acabar não se importando tanto com o agora. E o agora... que beleza tem!

O sonho virou realidade. Que ótimo... e o próximo passo? O que projetar? Minha vida posso definir como um turbilhão, o olho do furacão. Quando acredito que o vento forte passou e a tranquilidade encontrou seu lugar, a paz momentânea logo se transforma novamente. E como isso me atordoa, me abate, faz de mim um fantoche do acaso! Os pensamentos que se tornam confusos, a pele que se umedece com o suor brotando pelas têmporas...entretanto, meus amigos... esta sou eu e esta minha realidade.

Prefiro acreditar que a graça de estar viva é exatamente essa: o imprevisto, que traz também boas mudanças. Primeiro seguem-se os segundos e minutos, que tomam seus lugares nas tarefas rotineiras. As horas, que se consomem... os dias, uns mais amenos, outros tão extenuantes. Quando se olha para trás, uma semana se foi... e com ela as lembranças recentes dos dias mais marcantes... e as semanas também se consomem, como fossem a chama breve de um fósforo riscado. Ah, o tempo... que loucura pensar nisso!

Fato: o tempo transforma até mesmo aquilo que acreditamos ser eterno, porque a eternidade é uma ideia.

Não passei uma borracha no passado, ainda não. Há algumas cenas que ainda estão bem frescas em minha memória, e estas preservo porque elas me preservam também. As experiências que nos fazem mais fortes e nos forjam são as mais importantes, e não devem ser apagadas de forma alguma. Por mais duras que sejam. Porém, aos que tiveram o interesse e o tempo para ler meus antigos posts, devo uma explicação: uma mudança se fez em mim. Não cultuo mais o passado, não quero mais viver nostalgias da juventude, e isso merece ser comemorado!

Os próximos segundos serão dedicados ao meu trabalho, que também consumirá os minutos e horas seguintes. É disto que tenho certeza, apenas disso. Os próximos dias, semanas e meses serão, com prazer, aguardados pacientemente. Nada mais importante do que o agora, o presente do destino... sim, o destino nos presenteia com o agora.

Então, abriremos esse presente com aquela alegria infantil, rasgaremos o papel colorido, os nossos olhos saltados frente ao inesperado! E eu desejo de coração que todos vocês sintam, como eu sinto, a mais simples felicidade: a de apenas estar.

terça-feira, março 30, 2010

Para você, meu coração

Tuas mãos

Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?

Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.

Pablo Neruda

terça-feira, janeiro 05, 2010

O sopro do vento de inverno


   Aquela com certeza era uma tarde de inverno. Um vento congelante cortou sua face, seus olhos estavam vermelhos e as pálpebras se apertavam para que a rajada não trouxesse algum grão de areia. Ele não apreciava o tempo frio, na verdade detestava esse período do ano, quando apenas via mantas, cachecóis e tecidos grossos com um par de olhos andando pelas ruas. O banho, o amanhecer, as noites, tudo lhe parecia desconfortável, e até costumes habituais tornavam-se quase que impraticáveis. Havia alguns ganhos, como o vinho perto da lareira e o café com charuto, que até melhoravam com o frio intenso. Mas isso, para ele nada era se comparado à sua roupa leve, ao malte gelado, ao sol convidativo de uma tarde entre amigos. Um bom mergulho, um beijo salgado pelo mar. Não nascera no inverno, e desde essa época, odiava-o.


   Nesse momento, o problema, entretanto, era a noite. A sopa, o vinho, o café o confortavam até alguns minutos antes de deitar-se. Mas ao sentir a cama fria, ele amaldiçoava a estação, principalmente por não ter uma boa companhia. Pensava ele que as noites eram demasiadamente longas, e poderiam ser melhor aproveitadas. Como não conseguia dormir, levantava-se e caminhava entre os cômodos de sua mansão, degustando seu fumo levemente adocicado. Abria as janelas e admirava o breu estrelado, a lua e os estranhos visitantes noturnos que insistiam em acasalar-se em seu teto. A solidão não era sua inimiga, mas ao juntar-se ao clima invernal, quase pareciam amantes, e em nenhuma hipótese essa comunhão lhe daria algum prazer, ao contrário, o fazia pensar em praticar seu lado mais libidinoso, cometer alguma loucura como nos tempos de sua juventude, tanta volúpia e tanto desejo transbordavam de sua pele a ponto de ser sentenciado a queimar-se no inferno. Era sim, no inferno, no calor de suas chamas, na punição de seus crimes, na satisfação de poder sentir o flamejar de sua pele que ele pensava nesse momento. Sim, porque ele poderia, para chegar ao seu paraíso, abusar dos prazeres do mundo. Ah, os prazeres da carne, como seria bom deitar-se e tocar uma pele tão macia quanto o feltro, quanto o veludo azul de sua cortina.


   Porém, deixou de pensar em tantos disparates. Não seria assim que sairia de sua fria situação. Procurou estabelecer bom senso em seus pensamentos. Lembrou-se da caneca que esquentava junto ao fogo e foi buscá-la. Na ida, a pilastra sinuosa que se encontrava perto da lareira, com seu jogo de sombras e movimentos do fogo, lembrou-lhe, por um instante, o colo de uma bela dançarina do estabelecimento que frequentava quando mais moço. Já fazia algum tempo, nem mais sabia o nome da night girl. Mas o corpo não saia de sua cabeça, que já estava aquecida pelo fogo da lareira, enquanto seu coração permanecia tão gélido quanto os flocos que caiam na sacada. Pieguices... quanta bobagem ele pensava naquela casa, naquelas horas tão congelantes que paravam o movimento dos ponteiros. Ficar só, naquela época, só poderia ser um castigo divino. E ele não acreditava em Deus.



    Cinquenta anos. Em todos esses anos seu corpo desfrutara de todos os prazeres físicos. Muitas mulheres, muita bebida, muitos charutos, muito dinheiro! Esbanjava, caçoava, magoava. Na ordem, todo o dinheiro, fruto não de seu trabalho, mas do trabalho de seu pai – que Deus o tenha! – havia sido gasto de todas as formas: pagava rodadas aos amigos, - estes que, naquele momento, estavam brincando de cavalinho com os netos – comprava sempre o melhor vinho, o melhor champanhe, os charutos , claro, cubanos. As roupas, todas sob encomenda, com os toques mais refinados. Terminava suas noitadas sempre com duas mulheres; uma para cada interesse, ou para cada fantasia. Bons tempos aqueles.


   Mas, agora, somente sobrou-lhe o fogo da lareira e os sonhos com os dias quentes. Não que o dinheiro tivesse acabado; não, ainda teria mais, até o fim de seus dias. Ele achava que poderia ser logo, não saía mais de sua casa. Mas as lembranças não morriam, ele queria afastá-las, mas elas não paravam de visitá-lo. Na hora em que acordava, na hora que comia, na hora que lia. Mas, principalmente, na hora em que a tarde se ia e a noite chegava. Nesse momento, todas as lembranças lhe castigavam. Alguém já dizia que lembrar é viver, ou reviver; ou se não pode vencer algo, renuncie. Isso já era demais, e para ele nenhum ditado otimista – ou qualquer filosofia parecida com a de um seguidor de Zenão de Cício – não era nada além de auto-ajuda. O homem pode alcançar a sabedoria se harmonizar sua racionalidade com a natureza... mas que piegas.


   A noite, fria, chega batendo na janela. O vento uivava. Suas mãos estavam gélidas, assim como seus pés. Um cobertor xadrez, o fogo estalando na lareira. E o sono, que levava suas lembranças embora, para no dia seguinte a consciência trazê-las novamente, dava boa noite ao velho conquistador.