Sou fã de Natalie Portman desde a sequência de Star Wars - eis minha raiz nerd, ou melhor, geek. Depois com Closer, me surpreendi mais uma vez. Dentre tantos outros bons filmes e boas atuações, comecei a buscar notícias sobre novos projetos, filmes em que atuaria, etc. E, desde o início das filmagens de Black Swan, estava animada e feliz por mais um trabalho que seria bem conduzido, afinal, ela levou muito a sério todo o complexo enredo e assimilou basicamente todo o processo criativo do diretor, outro grande nome, Darren Aronofsky. A primeira imagem que vi foi a do poster que imprime a foto de Natalie Portman encarnando o cisne negro, com aqueles olhos vermelhos e maquiagem gótica. Enfim... nada mais natural que, ao ficar sabendo da estreia do filme, ansiasse por assistí-lo. Mas, com o tempo apertado, só consegui hoje - uma semana depois. É claro que já contava com o estardalhaço que a obra faria, e de certa forma, fiquei apreensiva, pois com tanta expectativa - minha propriamente e também aquela criada pelos comentários alheios - poderia me decepcionar. Mas não foi o caso, Natalie é Natalie e não só por ela, mas pela história e demais personagens, saí do cinema bem perturbada. Era esse o intuito, afinal.
"O lago dos Cisnes", obra de Tchaikovsky, fora um fracasso na época de sua première, segundo consta. O filme se vale de uma premissa interessante em relação ao fracasso - a companhia de dança está em declínio, sua principal bailarina - Winona! - é forçada a se aposentar e então o diretor está à procura de alguém que consiga o feito de colocar novamente o grupo nos holofotes. Interessante foi que, em dado momento do filme, pensei no quanto somos pressionados, em todos os âmbitos, a sermos perfeitos e nunca aceitarmos o fracasso. Essa pressão dá o tom ao filme. É essa a base de discussão.
"Seja perfeita!"
A perfeição, para o diretor da companhia, entretanto, não mora na técnica tão somente. A perfeição pode ser - e deve ser - encontrada no desapego, na leveza, no descontrole. Oras... não acredito na perfeição. Acredito na imperfeição, e está aí o grande segredo: na eterna busca pelo perfeito, devemos usar mão do que temos, o imperfeito. Lógico e incontestável.
Há muito o que dizer ainda, e pensei a respeito do quanto queremos manter o controle sobre nossos atos e pensamentos, no quanto somos torturados pelas falsas impressões e pelo desejo. O desejo de chegar ao lugar mais alto, de conquistar - e que, em grande parte das vezes, não é um desejo próprio, mas sim incentivado por alguém a quem queremos agradar - pode nos ferir e nos lança num abismo de psicoparanoias. A falta de autoestima, nesses casos, ampara a autoflagelação e a culpa. O medo nos faz criar realidades desesperadoras, falsas, que nos convencem de que estamos à beira do fracasso, o que não queremos.
"Minha garota meiga!"
Outra pauta, esta. Por que devemos perseguir a perfeição também em relação ao nosso comportamento? O que a garota meiga ganha em relação àquela que segue seus instintos, que não deixa de desejar, mas que admite sua imperfeição? E que preço se paga por ser - ou encenar - a boa moça? Há, sim, um preço alto demais: uma total desintegração da psique, e assim, diversos problemas relacionados à personalidade. Não, obrigada. Mesmo em família, existem focos desse tipo de desequilíbrio: mães que são controladoras e que tentam impor, conscientemente ou não, seus sonhos como objetivo de vida aos filhos. Resultados desastrosos para quem seguir essa linha de raciocínio.
Para todos os que ainda não viram o filme, não se preocupem: se consegui dizer algo, fiquei apenas na superfície. O que eu quero mesmo é compartilhar minha vontade - que é enorme - de poder ser imperfeita, numa sociedade que, hipócrita, desvia o olhar do que é humano e passa, cada vez mais, a endeusar o inalcançável.