domingo, setembro 20, 2009

Sonja - She-Devil with a Sword!


"Uma imagem vale mais que mil palavras", é o que se repete por aí. Eu não acredito nisso. Na minha humilde opinião, não há nada como aliar ambas, imagens e palavras. E se as palavras criam imagens, porque uma imagem não pode criar palavras?
Minha inspiração, ao escrever Sareh, foi essa imagem. Red Sonja, a guerreira hirkaniana mais célebre dos quadrinhos. E, meninas, essa mulher merece nosso respeito, apesar de ter sido desenhada por homens, apesar do apelo ao corpo feminino perfeito (na opinião deles!), pesquisem sobre a história dessa guerreira! Vale a pena!



sexta-feira, setembro 04, 2009

Sareh

Sareh


A sandália de couro cortava sua pele e depois sua carne a cada passo que dava, e os pés pareciam queimar em brasas. Longo era o caminho e imperdoável o sol: seu castigo se estendia a todos que ousavam trilhar aquela terra árida, desde a urtiga mais resistente até ela, que parecia indiferente àquele clima seco e cálido. Seu corpo vertia suor e sangue, mas se parasse para descansar, talvez não conseguisse dar cabo à viagem. As dores que sentia e o horizonte trêmulo a desafiavam, porém, ela apenas visualizava, através dos olhos de sua mente, a recompensa final. Com o diamante voltaria cavalgando em um lindo animal e beberia toda a adega de Heigh, um de seus únicos amigos ainda vivos.
Sareh. Era uma caçadora, tanto de recompensas quanto de animais e homens. Suas armas eram simples, entretanto sua força e agilidade deixavam qualquer desafiante extenuado. Muitos procuravam-na para oferecer-lhe tarefas impossíveis, pois sua fama se estendia das terras planas às colinas bárbaras. A busca pelo desconhecido, a batalha e o reconhecimento a inebriavam, era isso tudo o que a excitava.

Mesmo com tantos boatos sobre sua idade avançada, as formas de seu corpo denunciavam juventude. Os mais idosos adoravam contar histórias sobre ela nas reuniões dos anciãos. A mais famosa era a do elixir da juventude. Certa vez, numa de suas viagens a terras distantes, Sareh encontrara um elixir misterioso, e sem qualquer pista acerca de quem seria seu possuidor, levou-o ao velho alquimista de sua aldeia. Este, maravilhado e incrédulo, informara-lhe que se tratava de uma mistura milagrosa: se usado com cautela, estenderia o tempo de vida de quem o possuísse; caso contrário, poderia encurtá-lo. A partir disso, os anos não mais deixaram marcas em seu rosto, nem em seu corpo bem torneado pelas lutas de espadas. Muitas histórias eram conhecidas do povo da aldeia. Fora dali, suas aventuras se espalhavam por outros que a conheceram de alguma forma, que tiveram a honra de oferecer-lhe estadia por uma noite, dar-lhe o que comer ou beber.

Sareh pensou que poderia, pela primeira vez, estar perdida. O horizonte trêmulo não mostrava indícios de qualquer tipo de civilização ou mesmo qualquer sinal de vida. Apenas a morte a rondava, mas isso de forma alguma a assustava. Não iria voltar sem o diamante, essa era sua certeza. A dor era insuportável, mesmo para uma guerreira como ela, que já lutara com homens gigantescos, com animais ferozes e até mesmo seres que só em imaginação a maioria dos homens conseguiria desafiar. Apertava seus olhos e rangia os dentes a cada passo, mas o brilho ofuscante do sol lembrava o grande diamante Haijink, seu objetivo. Escondida por séculos nas pirâmides antigas, protegida por guardiões e magia negra, a joia lhe traria a fortuna que tanto cobiçara, pois seria muito bem paga pelo serviço. Havia uma lenda que dizia ser o diamante o portal para o Outro Lado, onde os mortos poderiam ser ressuscitados. De acordo com outra, que serviria como a Chave do Tempo e assim seu possuidor teria o poder de manipular o presente, o passado ou mesmo o futuro. Sareh não contava com isso. Muitas dessas histórias contadas pelos anciãos não passavam de entretenimento ao redor de fogueiras para homens ou rapazes em busca de algo em que acreditar. Ela mesma ria copiosamente quando lhe perguntavam se era imortal.

Não acreditava na imortalidade, nem em poderes ilimitados. Certa vez, numa luta contra um ciclope, antes deste desfalecer, arrancou-lhe o olho. Todos apostavam que se Sareh queimasse numa fogueira o olho de um ciclope, como a lenda dizia, se transformaria numa deusa. Ela não perdeu tempo, organizou todo o ritual e chamou os anciãos para que estes vissem que tal sandice não passava de uma história. Na noite seguinte, mesmo assim, as histórias sobre ela e o olho rendiam diversas teorias e muitos queriam conhecê-la para que ela realizasse seus desejos, como se realmente fosse uma divindade. Depois disso, desistiu de levar o esclarecimento ao povo. Concluiu que o poder das lendas era imensamente maior que qualquer interesse pelo conhecimento racional.