Foi chegada a hora de lançar as chamas presas por dentro dela, antes que explodisse. Aquela era a sua vez de poder soprar para longe toda a sujeira que via e sentia desde que o acontecido se sucedeu. Lembrou-se de cada detalhe dos momentos extenuantes do passado e das cenas promissoras do presente. E, assim como as estrelas, que somente piscavam naquela noite, aguardaria seu interior silenciar. Não adiantaria muito agir com tanto fogo e lava vulcânica querendo sair pelas ventas. Era melhor esperar, aguardar, saborear as notícias que seriam trazidas pelo tempo. E assim, depois de alguns goles de seu anestesiante preferido, sentou-se perto da fogueira.
Avistou, ao longe, uma enorme árvore. Pensou sobre tudo o que aquela sábia sequóia já presenciara. Quanto tempo se passou desde que fora cultivada, quantas guerras já não teriam começado e terminado. Quantas vidas nasceram, quantas mortes e amores, e desenlaces, e vitórias e derrotas.
Mais um ano se passara e mais ela tinha visto, sentido, experimentado. Agora sabia que não deveria parar, que o fluxo era contínuo, que agora o que mais importava era seguir a estrada. Acreditava e via que nada havia de errado com ela, mas talvez com o mundo. Onde estariam as pessoas que o salvariam? Uma hora tudo acabaria, a única certeza da vida, porém, seria imbecil demais concordar com a inércia e a ignorância. Não importavam mais os tantos que insistiam invadir sua mente com as falsas promessas, daria um adeus a todos eles, que procurassem outras mentes cansadas e torturadas para converter. A sua estava tranquila, pacífica como uma ilha perdida no meio do oceano, virgem.
Um oceano, não encontraria metáfora melhor para expressar a infinitude do tempo e da própria experiência de estar viva. Flutuava em seu barco pressentindo as tempestades que viriam, e quando estas se dissipavam, sentia a brisa e o sol acariciando sua pele molhada, salgada. Logo as ondas estariam tão calmas que poderiam trazer boas novas, mensagens dentro de garrafas, esperanças. Ou então, o contrário, súplicas jogadas ao mar por pessoas que não entendiam o porquê, que não aguentavam as tormentas, que por vezes desistiam da descoberta.
E ela refletiu, o tempo continuará ecoando, mesmo que haja tantas e tantas tempestades, não há nada a fazer a não ser persistir ou desistir. Entregar-se às ondas violentas, esmagadoras, ou então agarrar-se ao barco ou ao que sobrar dele. E, ao longe, quando as areias ficarem visíveis, voltaremos a ser crianças, ingênuas, riremos e nos lançaremos aos simples prazeres, sem condenações ou medos.
Abriu seus olhos e o fogo já havia se apagado. Agora somente as cinzas daquilo que havia sido.
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