"Um tapete muito caro para a Morte"
(parte II)
Ancorou-se na batente da porta, os olhos lacrimejaram, seu estômago parecia petrificado. Em um único gesto afastou o rapaz e entrou no elevador. Seus olhos saíram do chão e num único segundo encontraram os do jovem, e seu olhar talvez dizesse mais que qualquer palavra. A porta de aço fechou-se e Frederico finalmente estava só. Sua garganta ardia. A sede era sim de justiça, mas ainda maior era sua vontade de engolir algo que o acordasse, ou que acordasse nele.
O lobby do hotel ficava no subsolo, e o bar era iluminado por luzes vermelhas, algumas delas piscavam. Não contou os passos que faltavam para chegar ao barman, entretanto, cada vez que seus pés encostavam o chão, sua garganta secava um pouco mais. As pessoas que riam, ao vê-lo adentrar o bar, repentinamente se transformavam. Os rostos se tornaram hostis. Frederico precisava muito daquele whisky on the rocks.
Ao sentar-se num daqueles bancos altos, fitou o atendente. Fez o pedido e, já preparado, aguardava pela bebida sem muita paciência. O barman escondia um sorriso no canto dos lábios, e isto o agradou. Finalmente conseguira uma dose, e o melhor, dupla - cortesia do hotel, foi o que pensou. A garganta já não doía mais, a sede já não machucava. O ar agora parecia invadir seus pulmões violentamente, respirava de forma profunda e pausada, expulsava o ar da mesma forma como se expirasse seus fracassos, como se algo que o ferisse por dentro estivesse saindo pelas narinas. Mais uma dose, por favor!
As luzes vermelhas piscavam cada vez mais rápido, os risos voltavam aos poucos a encher o local de uma fingida alegria. O barman era o único cujo olhar não era decifrável: ao mesmo tempo, acolhedor e irônico. Mas Frederico preferia não dizer palavra. Algo em seu estômago o incomodava, e não era ansiedade. Poderia ser o whisky, não bebia há algum tempo. Depois que sua vida se tornara uma absurda sucessão de dias tediosos, resolvera se anestesiar de outra forma: devorava páginas e páginas de histórias que outras pessoas escreviam.
O último gole caiu como um calcário pontiagudo. Imagens de uma moça linda, realmente linda, se formavam em sua mente. Mosaicos de lembranças remotas, flashes que faziam seus olhos lacrimejarem de tristeza. As luzes vermelhas se misturavam aos espasmos, sangue por toda parte, gritos e risos.
(continua...)
Um comentário:
A esta muito bom até agora, mas poderia ter um pouco mais de suspense, ou de terror. A morte da mulher poderia ter sido mais... agonizante, e eu só achei meio estranho alguém deprimido e se afundando no alcool querer ler alguma coisa.
Postar um comentário