O Cemitério Particular
Cinco deles estavam na sala, que era suja e cheirava a ratos e comida podre. Nas paredes, um papel amarelado. Poderiam ser vistas algumas flores já sem cor estampadas naquele material tão velho e gasto e os móveis teriam algum valor se estivessem em bom estado, pois eram relíquias de quase dois séculos. Mas os cinco não queriam luxo algum. Aliás, aquele lugar era ideal, pois ninguém mais visitava a velha mansão desde que os últimos inquilinos se mudaram. Fazia já algum tempo.
Riam muito os cinco. Um era bem cabeludo, com olhos já perdidos. Os outros pareciam muito entre si, cabelos ensebados e roupas rotas. Acenderam um e outro baseado para dar início à noite, contavam piadas sem graça, riam. Os quartos vazios ecoavam os risos e muitas vezes os cinco pensaram ter ouvido sons diferentes, e deveriam ter prestado mais atenção.
Picos de agulha. Silêncios cortados por suspiros e gemidos. Os cinco viam vultos por entre as formas criadas pela fogueira improvisada, mas a crença e a espera pelas alucinações substituíam qualquer temor. Um vento gélido acariciou-lhes a face, mas eles não sentiram nada. Num determinado instante, não sabiam qual, pois o tempo não era medido em segundos, minutos ou horas, algo mudou. O quarto ainda continuava o mesmo, entretanto. Os cinco se deram conta de que alguém os vigiava, e não tinha boas intenções. Quiseram pegar suas coisas e sair, porém, no estado em que estavam parecia impossível qualquer movimento.
O quarto não era mais o mesmo. Os risos despertaram os residentes da mansão, o que não acontecia há décadas. Os espíritos de pessoas gananciosas demais para se desfazerem de seus bens passeavam entre os rapazes, que agora sentiam suas presenças. As sombras do quarto se tornavam cada vez mais macabras, ora distorcidas, ora demoníacas demais. A sensação dos viventes era comparável à de um gelo passeando pelos espaços entre as costelas. Num ímpeto, um deles se levanta e é seguido pelos outros quatro. Caminham sem rumo, o medo já os impedia de correr, precisavam escorar-se nas paredes que agora eram frias e cheiravam a carne podre.
Chegam todos juntos a um outro cômodo, uma sala aparentemente. Se antes o sentimento era de medo, agora tratava-se de desconsolo e tristeza. Seus corações batiam freneticamente, não conseguiram dar três passos em direção aos móveis que ali existiam, saíram imediatamente de lá e caminharam, juntos, ao quintal da mansão. Andavam de mãos dadas e um deles chorava, pensando em sua casa e em sua mãe. Todos os outros quatro pensavam na morte.
O quintal se enchia dos sons de morcegos e pássaros noturnos. Mas isto não era o pior. Mal tiveram tempo para avaliar o lugar, descobriram lápides e um arco onde se lia a palavra "Zoo" em metal enferrujado. A paisagem desoladora incluía algumas árvores secas, muito mato rasteiro e outros sinais de abandono. Era um grande mausoléu. Mas uma lápide em especial se destacava das demais, era enorme, e parecia haver ao lado desta um grande buraco. Automaticamente, os cinco se dirigiram até lá, seus pés se moviam, mas seus corpos eram puro concreto. Chegaram perto, todavia, não tiveram tempo para nada dizer ou fazer, já que um grande animal se aproximava. Não parecia ser um lobo, não parecia ser um gato, seus olhos faíscavam e seus dentes se preparavam para atacar a qualquer momento. O animal era guiado por alguns dos espíritos. Ninguém disse nada, ninguém gritou, apenas o que se ouvia era o som que o animal emitia, que não era identificável.
O buraco agora havia aumentado. Os cinco não tinham outra saída, e outros animais iguais ao primeiro se aproximavam. Não se sabe se eles caíram no grande halo ou se estavam alucinados demais. Os cinco acordaram no primeiro quarto, a fogueira apagada. Obviamente, da mansão saíram, aos gritos. Um único riso se ouvia, ao longe, enquanto os amigos dobravam a esquina daquela mansão tão antiga quanto a própria cidade em que viviam. Era um riso apenas.
2 comentários:
Gostei muito dessa, já disse, não é dos meus gêneros favoritos, mas essa, eu achei bem original.
Hei esse realmente ficou bom, a ilusão realmente pode ser... perturbadora.
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