segunda-feira, julho 04, 2011

Para quem quiser ler


Voltava do aeroporto numa estrada de alta velocidade, e pisava fundo. Sempre dirigia ouvindo as músicas de seu pendrive no volume máximo, porém, dessa vez somente o silêncio a embalava. Um silêncio cheio de palavras, as ditas e as emudecidas. E aquelas que não conseguira transformar em voz insistiram  em fazer morada em seu coração, como espinhos. Doía tanto que, naquele momento, seus olhos encheram-se de lágrimas e, para não perder o controle  - da direção, de seus pensamentos - resolveu ligar o som. A música que começou a tocar, entretanto, a fez descarregar ainda mais todas as lágrimas que haviam sido guardadas dentro de si, e ela se deixou levar pelos sentimentos que não queria externalizar há algum tempo. Era melhor assim, e em meio aos soluços, abaixou o vidro do carro, para sentir o vento secar seu rosto. Não era tristeza... não sabia ao certo o que era. O dia fora perfeito, como todos os outros em que se encontraram. Talvez o problema fosse esse: porque era algo bom demais. E impossível.

Enquanto tentava se recompor, lembrou-se do início daquela história. Refletiu sobre o passar do tempo, os acontecimentos, e aos poucos voltava à realidade. Ninguém conseguira fazê-la sentir aquilo, em momento algum de sua vida. Era intenso demais, e inexplicável, e por mais que, durante meses, ela conseguisse acreditar que poderia esquecê-lo, assim que seus olhares se cruzassem e eles se tocassem, seria como se o tempo não existisse. Como se nada tivesse mudado. Suas tentativas de racionalizar a respeito fracassaram, não havia explicação... Será que ele também se sentia assim? Perdido?

A estrada chegava ao fim, logo estaria em casa. Todas as vezes em que tentou se entregar a alguém, feriu-se. As cicatrizes eram feias, seu medo e sua insegurança tornaram-na indiferente. Mas ele era seu ponto fraco. Sua intenção, naquele dia, era despedir-se dele. Iria encerrar a história,  de uma vez por todas, afinal, ele havia recomeçado... então sorriu. Não conseguiria parar. Era seu veneno e, ao mesmo tempo, o antídoto. Dessa vez, não negaria mais, nem a ela mesma, o que desejava tanto. Não pediria nada a ninguém, não daria explicações, não mentiria mais a si mesma. Aproveitaria cada segundo que pudesse ao lado dele, para contrariar sua natureza... pois a vida é maravilhosa, quando realmente vivemos.

"Eu gosto do impossível, tenho medo do provável, dou risada do ridículo e choro porque tenho vontade, mas nem sempre tenho motivo. Tenho um sorriso confiante que as vezes não demonstra o tanto de insegurança por trás dele. Sou inconstante e talvez imprevisível. Não gosto de rotina. Eu amo de verdade aqueles pra quem eu digo isso, e me irrito de forma inexplicável quando não botam fé nas minhas palavras. Nem sempre coloco em prática aquilo que eu julgo certo. São poucas as pessoas pra quem eu me explico." Bob Marley

2 comentários:

F. Carolina disse...

A vida faz estragos. Mas também traz os paramédicos... e na minha opinião se vamos nos machucar de qualquer jeito eu quero pelo uma cicatriz bem hard core!

Anônimo disse...

Caraaaaaaaaamba ... esse foi o que mais gostei. Eu é que queria uma experiência dessas para mim ! Não larga não, insiste !!! Quem disse que tem que ser para sempre ? E o que é "para sempre" ? Aliás, QUANTO é "PARA SEMPRE", se não sabemos quanto tempo temos ?